Entrevista exclusiva: Thammy Miranda fala sobre candidatura para vereador, religião e política

'O Deus que eu acredito, sirvo e confio é o deus do amor', diz o candidato a vereador da cidade de São Paulo

Thammy Miranda, 37 anos de idade, é empresário, pai de família e pré-candidato a vereador da cidade de São Paulo pelo Partido Liberal (PL). “Acho ele (o partido) mais de centro do que de direita”, disse quando perguntado sobre o motivo de ter escolhido um partido de direita e não de esquerda para concorrer a um cargo público.

A relevância de Thammy é inegável se mensurada por números e isso automaticamente o classifica como o atual homem trans de maior destaque no Brasil. Somente no Instagram ele contabiliza mais de 3 milhões de seguidores, além de mais de 1.5 milhão de seguidores na sua página do Facebook.

Leia a entrevista:

“Eu luto pelo dia em que cada um poderá ser o que quiser e consequentemente ser respeitado por isso”, declara Thammy
Créditos: Divulgação
“Eu luto pelo dia em que cada um poderá ser o que quiser e consequentemente ser respeitado por isso”, declara Thammy

Você é o atual homem trans com mais visibilidade no Brasil. Qual a parte positiva e negativa disso?

Não tem parte negativa, o que tem é muita responsabilidade, isso sim! Eu, naturalmente, sou uma pessoa de muito diálogo, respeitoso e espero sempre isso de volta das pessoas. Mas ao mesmo tempo uso minha coragem para confrontá-las de uma maneira muito educada e polida, mostrando que não estamos aqui para aceitar o ódio de ninguém, mas para ter o direito e dignidade que merecemos.

Como foi a sua descoberta sobre a sua identidade de gênero?

Eu sempre soube que eu era homem, só não sabia externar isso. Quando descobri o termo Transgênero eu tinha 32 anos e contei com a ajuda de amigos. Acredito que o apoio familiar e a ajuda de bons profissionais deveria ser universal, mas existem muitas outras coisas que influenciam nesse trajeto. Por exemplo, se tivéssemos uma educação de qualidade desde a infância, focando na educação socioemocional, e trabalhássemos o respeito ao próximo a fim de fazer com que as pessoas já aprendessem a lidar com suas próprias escolhas e as escolhas dos outros, acredito que essas questões seriam mais fáceis de serem enfrentadas.

Eu luto pelo dia em que cada um poderá ser o que quiser e consequentemente ser respeitado por isso.

Você vai se candidatar para o cargo de vereador da cidade de São Paulo e já adiantou que não será por um partido da esquerda. Quais critérios você usou para escolher o seu partido?

Escolhi um partido que me deu a liberdade de ser quem eu sou, que me respeita e me dá abertura para lutar pelas causas que eu acredito e que fazem parte da vida de muitas pessoas. O nome do partido já diz tudo: Liberal. Acho ele mais de centro do que de direita. O partido tem uma visão liberal social que eu acredito e lá quero ganhar espaço para que as pessoas nos respeitem como somos, então acredito que iremos abrir muitas portas e caminhos.

Geralmente é a esquerda que pauta projetos, leis e campanhas de proteção para a comunidade LGBTQ+ dentro da política. Qual vai ser o seu papel dentro da direita?

A esquerda já faz isso, assim como você mesmo falou, então vamos ganhar um novo espaço agora e assim ampliar a nossa causa. Minha causa é a inclusão como um todo, trabalhando a aceitação das pessoas em relação a comunidade LGBTQIA+. Eu passei muitos anos da minha vida querendo ser aceito e sei o quanto isso é difícil, mesmo para alguém como eu que sou privilegiado, por ter nascido em uma família que tem condições.

Quero trabalhar para criar uma grande rede de proteção para que ninguém seja excluído. Felizmente estou cercado de bons profissionais que têm me ajudado a enxergar grandes iniciativas de prefeituras de diferentes parte do mundo, que atuam em iniciativas para diminuir preconceitos, criando condições de atendimento e inclusão para as pessoas.

Você diz ser uma pessoa bem religiosa e “temente a Deus”. O deus que você acredita é o mesmo deus que considera a homossexualidade ou pessoas trans um pecado ou algo indigno?

Não. O Deus que eu acredito, sirvo e confio é o deus do amor. Um amor incondicional, o mesmo amor que eu sinto pelo Bento atualmente.

O Bento, o seu filho, já nasceu com bastante visibilidade nas redes sociais e também na imprensa. Você tem receio de que ele possa sofrer bullying ou ataques virtuais por parte de pessoas intolerantes em relação a comunidade LGBTQ+? Em caso afirmativo, como você planeja evitar que isso aconteça?

Acordo todos os dias da minha vida e saio para lutar por um mundo melhor para o meu filho e também para todas as crianças. A minha intenção é contribuir efetivamente para que o Bento cresça numa sociedade sem preconceitos na qual todos sejam aceitos e respeitados.

Como vai ser pedir votos para a comunidade religiosa e também para a comunidade LGBTQ+ ao mesmo tempo?

Sou pré-candidato porque acredito que o poder público deva trabalhar, acima de tudo, para o bem de todas as pessoas. Não quero só o voto delas, mas quero principalmente ter a oportunidade de fazer o bem para todos, pois a cidade tem que ser boa e justa para todos.

O estado é laico e me parece que muitos políticos se esquecem disso. Na sua opinião, é possível ou ético misturar religião com política?

Vivemos num estado laico, onde todas as religiões são livres e devem ser respeitadas, mas não devem interferir na política. Devemos preservar a liberdade das pessoas e incentivar sempre a tolerância, não deixando que a minha crença seja superior a vida do outro. Na política as razões sempre devem ser de ordem pública e questões de convicções pessoais não devem guiar decisões que servem coletivamente.

Você disse numa entrevista publicada recentemente que não perguntou quais as políticas de inclusão social que a Natura oferece para a comunidade trans, dentro e fora da empresa, antes de aceitar fazer uma campanha para eles. Depois que esta entrevista foi pro ar, você entrou em contato com a Natura para tentar entender melhor esta questão?

Sim. Eles trabalham a inclusão da comunidade LGBTQIA+ há bastante tempo, desde a adoção do nome social e benefícios de saúde para casais LGBTQIA+, até levar a possibilidade de emprego e renda para esta comunidade, oferecendo cursos profissionalizantes a partir de associações parceiras. Inclusive, eles já tinham feito outras propagandas com outras pessoas Trans.

Por que alguém, independente da religião, gênero ou orientação sexual, deveria votar em você para vereador de São Paulo?

Porque sou corajoso, tenho boa índole, bom caráter, tenho ideias inovadoras e graças a Deus já conquistei um patamar na minha vida onde eu posso me dedicar integralmente a cuidar de quem mais precisa da nossa atenção. E também porque eu tenho como missão de vida deixar um legado transformador nesse mundo.

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